sexta-feira, 10 de junho de 2016

RELIGIÃO E HOMOSSEXUALIDADE: (DES)CAMINHOS DA HUMANIDADE

A história de nossa civilização nos ensinou que em algumas sociedades a homossexualidade esteve ligada aos ritos sagrados, como nos encontros dedicados ao deus falo, representado pela forma de um pênis, grande e ereto, nos banquetes dedicados a Baco, os bacanais, dentre outros. No entanto, com o advento do Cristianismo, as relações homossexuais foram condenadas a um não-lugar social e seus "adeptos" que não se convertiam ao cristianismo eram condenados a viver no ostracismo ou seriam torturados, mutilados e, até mesmo, queimados vivos. 
Não pense você que as torturas e assassinatos de homossexuais, em nome de Deus,de Alá, ou de quem quer que seja, ficaram no passado. Lembremos do caso de do Irã, baseado na lei Islãmica, que estabelece a pena de morte para o sexo gay, que, em 2005, condenou dois adolescentes a prisão por 14 meses, seguido da aplicação de 228 chibatadas em cada um e enforcamento público na Praça da Justiça da cidade de Mashhad, nordeste do Irã. Causando revolta e comoção mundiais.
A homossexualidade chegou a nossa sociedade atual como "estilo de vida marginal", "ecentricidade", "loucura", distúrbio hormonal ou psicológico", "possessão demoníaca" ou "obra de alguma Pomba gira". Há séculos homossexuais são violentados simbólica e físicamente por serem vistos sempre atrelados a noção de erro, de pecado, de aberração, de abominação, de algo que deve ser curado, corrigido, doutrinado, e a religião é uma das principais responsáveis por isso. Vejamos, pois, o que pensam as principais religiões de nossa sociedade atual sobre a homossexualidade e sujeitos homossexuais.
 O Islamismo continua condenando a homossexualidade; a Igreja Cristã também, tanto a católica quanto a evangélica. Para esta, indivíduos homossexuais são dotados de uma "Perversão satânica e deliberada desobediência a Deus" (Assembléia de Deus); ou de uma "Distorção da sexualidade"(Igreja Batista); Para aquela, no entanto, dois seguimentos divergem opiniões sobre a aceitação da homossexualidade: a primeira, a Apostólica Romana, orienta a formação familiar a partir da união heterossexual. A homossexualidade é condenada e vista como ato pecaminoso;  a segunda, o catolicismo liberal, consegue deixar o carater sexual de seus fiéis em segundo plano, pois acredita que "O ser humano é acima de tudo uma criatura de Deus".
Mas nem só de preconceito vive o homem, alô alô graças a Deus! Outras religiões veem a homossexualidade como uma condição humana que não interfere no caráter e na fé de seus seguidores.  O espiritismo, por exemplo, acolhe a homossexualidade, pois busca Entender as pessoas como elas são, sem preconceitos. Para a filosofia budista, por sua vez, não importa se o budista é hetero, bi, a, homo, pan, etc, o importante é não fazer o mal, mas cultivar o bem e purificar a mente. A Umbanda também não julga seus filhos e suas filhas homossexuais, as entidades não discriminam ninguém, pois veem diante deles o ser humano, não sua sexualidade. O que a entidade quer é um coração bondoso, um comportamento ético e muito trabalho e doação fraterna. Coincidência ou não, estas religiões que pregam o amor ao próximo, sem preconceitos, são tão discriminadas quanto sujeitos homossexuais. A discriminação ainda se agrava contra homossexuais que as seguem, em especial os ubandistas.
Recentemente, na contramão da ordem das coisas, surgiu no Brasil uma nova igreja evangélica, chefiada pelo Pastor Marcos Gladstone, esta, além de evangélica e cristã,  é também LGBT: a igreja cristã contemporânea, que conta hoje com nove sedes espalhadas pelo Brasil e mais 1.800 membros, dos quais 90% são homossexuais declarados. Isso mesmo! Pode prepara o bouquet de flor de laranjeiras, encomendar o vestido branco estilo retrô com véu de 20 metros e escolher o buffet!
Em entrevista ao site Igay, o pastor Marcos, que hoje está casado com o Pastor Fábio Inácio, afirmou que os cultos são abertos a quem quiser participar e não exclui ninguém por sua condição sexual, disse ainda que a igreja cristã contemporânea realiza matrimônios e batizados como nas demais igrejas Cristãs.
                        

Defendemos uma teologia inclusiva, de acolhimento homoafetivo. Tomamos como exemplo Jesus, que sempre cuidou das minorias, acolhendo os que a sociedade excluía”, diz.

Para o pastor Gladstone, Um dos grandes problemas da  não aceitação de homossexuais nas igrejas cristãs, nasce na interpretação errônea de que a  bíblia condena a homossexualidade,  quando, na verdade, condena os  rituais pagãos. Vai além: culpa também as diferentes tradições do livro sagrado que são usadas para disseminar a ideologia da condenação e do pecado Cristão  e cita como exemplo o texto de 1 Coríntios, capítulo 6, versículo 9. 


Versões preconceituosas traduziram o trecho como ‘Efeminados e sodomitas não herdarão o Reino dos Céus’, porém, o escrito original do grego diz ‘Depravados e pessoas de costumes infames não herdarão o Reino dos Céus’”, comenta.

Dentre tantas polêmicas envolvendo homossexualidade e texto sagrado, fica dificil acreditar que a Biblia condena a homossexualidade se lembrarmos do possivel amor entre Davi e Jonatas, descrito em  I Samuel, quando o Rei Saul chamou à sua presença Davi, então apenas um jovem guerreiro, devido a seus grandes feitos em combate e por ter matado o gigante Golias. Nesta ocasião, Jonatas, filho do rei Saul, ao ter visto pela primeira vez davi, o Amou ( OI? Amor à primeira vista entre dois homens? Na Bíblia?! Então... Será? babado!)



Ora, acabando Davi de falar com Saul,a alma de Jonatas ligou-se à alma de Davi; e Jonatas o amou como à sua própria alma ( I Saul: 18 1)



O texto segue relaando que, depois de um tempo ,o rei Saul desejou a morte de Davi, aind aque conhecedor da popularidade de Davi, de recebê-lo na própria família com todas as honras, casando-o com a princesa Milka. Ao lermos com atenção o o texo sagrado, podemos entender dois possíveis motivos para o nascimento do ódio de Saul por Davi:

Então se acendeu a ira de Saul contra Jonatas, e a ele lhe disse: Filho da perversa e rebelde! Não sei eu que tens escolhido o filho de Jessé (Davi) para vergonha tua e para vergonha de tua mãe? ( I Samuel 20.30)

O primeiro motivo aparente que justifique o ódio de saul contra Davi é a escolha de Jonatas de seguir Davi como rei. O segundo motivo, por sua vez, está implícito no trecho “para vergonha tua e para vergonha de tua mãe?” onde podemos inferir uma possível homossexualidade de Jonatas, o que era considerado extrema vergonha tanto para a sociedade em que vivia, como para uma mãe que passou nove meses gerando no ventre um homem. 
A decepção de Saul com seu filho Jonatas, portanto, seria dupla: primeiro por descobrir a possível homossexualidade de seu filho, depois por descobrir o envolvimento deste com o próprio genro, Davi,  a quem Saul recebera como filho. O que por sua vez pode ser comprovado em I Samuel ( 20. 41): "Beijaram-se um ao outro e choraram ambos, mas Davi chorou muito mais". A parte final deste verso diz que Davi se excedeu, o que sugere que não ficaram só no beijinho, mas partiram para carícias que deixaram profunda saudade em Davi, ao ponto de dedicar ao amado um cântico de lamento: "Angustiado estou por ti, meu irmão Jônatas; muito querido me eras! Maravilhoso me eras o teu amor, ultrapassando o amor de mulheres! ( II Samuel 1.2). Agora pensem comigo: QUAL HÉTERO VAI DIZER QUE O AMOR POR UM AMIGO ULTRAPASSA O AMOR POR MULHERES? 
Como podemos perceber, ainda que de forma contraditória, homossexualidade e religião coexistem no mesmo espaço: o ser humano, pois fazem parte de nossa formação, de nossa socialização, de nossa condição humana. O que difere é a forma como cada um de nós as encara. Este, porém, é um caminho espinhoso, onde temos que andar com todo cuidado possível, mas sem perder a firmeza do posicionamento político onde a religião não pode interferir na condição sexual de seus seguidores, muito menos puní-los por isso  e nenhuma condição sexual  deve interferir ou ser modelo padrão de nenhuma religião. 



Um comentário:

  1. Muito bom texto! Fundamentado e esclarecedor. Que o conhecimento a discussão e a análise de textos como o seu possiblilitem a transformação de mentalidades.

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