Você
com certeza já deve ter visto ou ouvido falar em stiletto por ai. O
Stiletto Dance é uma dança em cima do salto, onde se
trabalha a postura e o equilíbrio. Surgida na última década em
escolas de dança na Broadway, em Nova Iorque, a modalidade nasceu de
exercícios para treinar o equilíbrio de bailarinos e acabou se
popularizando com o lançamento do álbum I Am... Sasha Fierce
(2008), de Beyoncé, quando,
nas performances dos
clipes de Single Ladies e Diva, a cantora sobe no salto para fazer
coreografias bem sincronizadas e sensuais. O Stiletto, portanto,
é predominantemente uma dança feminina e consegue despertar a
sensualidade que está dentro de cada mulher. As dançarinas de
stilleto buscam parecer a musa que querem copiar.
Este
estilo, no entanto, caiu nas graças de homossexuais masculinos,
dividindo opiniões a respeito: há quem faça do stilleto um estilo
de vida de auto afirmação da identidade homossexual; e há quem
ache o stilleto um desserviço a causa homossexual, pois só
aumentaria o preconceito contra homossexuais masculinos. Não
queremos aqui julgar o mérito do estilo, mas levantar o debate sobre
a polêmica em torno do “ levar a vida em cima do salto”.
Não
negamos que o stilleto subverte a ordem imposta pela sociedade ao
gênero masculino, mas será que isso é o bastante para empoderar
seus adeptos sobre o que é ser homossexual nesta mesma sociedade?
Hoje, durante
uma conversa com um
dançarino de stilleto,
homossexual assumido,
perguntamos
ao mesmo o motivo que o leva a se acabar dançando em cima de um
salto? Por surpresa, a
resposta que recebemos
nos
incomodou profundamente, disse
ele:
Eu
danço stilleto porque me sinto bem, quando eu to de salto sou mais
eu, sou mulher, sou diva, sou invejada... Eu me liberto. Sei que sou
bom nisso, muita mulher fica pagando ao meu ver dançar, porque eu me
rasgo mais que elas, sou mais mulher que elas nessa hora.
Ok, é só
isso?Dançar, ser mais mulher que as próprias mulheres? Mas em que o
stilleto te ajuda a se compreender enquanto homossexual? Perguntamos.
E ele não soube responder... Mas seguiu enfatizando que se sente
mais mulher porque esta de salto e é invejado pelas mulheres que não
conseguem dançar como ele, isso nos levou a refletir o papel do
salto alto na vida deste homossexual: quando o salto alto deixou de
ser um instrumento de resistência para ser instrumento de
empoderamento, se é que ele o empodera? Estaria o salto significando
para este dançarino a fiança de uma mudança repentina de
identidade? Mas e depois que ele desce do salto? O que acontece?
Um grande erro do
olhar leigo sobre o stilleto é vê-lo apenas pelo caráter
estético, isso resulta julgamentos rasos, que vão da admiração,
passando pela preocupação com as articulações do calcanhar e do
joelho que, certamente seus adeptos terão no futuro, até a
inaceitabilidade de um homem “querer ser mais que as mulheres”.
No entanto, o stilleto é muito mais que isso. Podemos equipará-lo a
um movimento homossexual Pop de grande aceitação atual, mas que
ainda não sabe a força que tem. Pelo menos não a força política.
O Stilleto é
resistência quando homens sobem num salto agulha, dançam o mais
feminino que podem, com exageros de movimentos de braços, posturas
alongadíssimas e muito carão, subvertendo assim, o que a sociedade
espera do comportamento masculino. Falamos aqui de um estilo cujo
espaço é quase homossexual, quase porque também é muito procurado
por mulheres não necessariamente homossexuais, mas a presença
destas não tira o reinado daqueles no estilo.
O
stilleto não
é, ou ainda não é
empoderamento, pois
ainda que seja uma prática
social em crescimento constante, espaço
de sociabilidades juvenis, não
fomenta debates sobre a presença homossexual
neste espaço, não traça estratégias informativas sobre o lugar do
salto na ressignificação da identidade desses homossexuais adeptos
do estilo, não conscientiza ninguém
sobre o direito de usar um salto, por exemplo, e todas
as
subjetividades agregadas ao uso deste calçado e não de uma coturno,
por exemplo; não fomenta debates sobre os direitos civis desses
dançarinos, etc; mas ao contrário, aliena seus adeptos ao
incentivar a competitividade nos mesmos seja no sentido de levá-los
a uma homogeneização, ou de distinção entre a mais feminina, a
mais desejada, a mais Diva a mais copiada,
etc. Não que isso não possa acontecer, mas em nosso entendimento,
isso enfraquece não apenas estas identidades sexuais, mas também
a luta pela conquista de direitos
LGBT. Empoderamento vai muito mais além que subversão de gêneros,
o salto não é apenas um calçado, sentir-se diva não livra ninguém
de ser agredido na rua por algum(ns) homofóbico(s), muito menos o
stilleto é capaz de compreender a diversidade de homossexualidades
dentro da homossexualidade. Quando os dançarinos de stilleto
começarem a refletir sobre isso e não apenas
saírem
desfilando e dançando ao som de “Crazy in love”
ai
sim, poderemos pensar em empoderamento.
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