segunda-feira, 6 de junho de 2016

STILLETO DANCE: RESISTÊNCIA OU EMPODERAMENTO HOMOSSEXUAL?


Você com certeza já deve ter visto ou ouvido falar em stiletto por ai. O Stiletto Dance é uma dança em cima do salto, onde se trabalha a postura e o equilíbrio. Surgida na última década em escolas de dança na Broadway, em Nova Iorque, a modalidade nasceu de exercícios para treinar o equilíbrio de bailarinos e acabou se popularizando com o lançamento do álbum I Am... Sasha Fierce (2008), de Beyoncé, quando, nas performances dos clipes de Single Ladies e Diva, a cantora sobe no salto para fazer coreografias bem sincronizadas e sensuais. O Stiletto, portanto, é predominantemente uma dança feminina e consegue despertar a sensualidade que está dentro de cada mulher. As dançarinas de stilleto buscam parecer a musa que querem copiar.
Este estilo, no entanto, caiu nas graças de homossexuais masculinos, dividindo opiniões a respeito: há quem faça do stilleto um estilo de vida de auto afirmação da identidade homossexual; e há quem ache o stilleto um desserviço a causa homossexual, pois só aumentaria o preconceito contra homossexuais masculinos. Não queremos aqui julgar o mérito do estilo, mas levantar o debate sobre a polêmica em torno do “ levar a vida em cima do salto”.
Não negamos que o stilleto subverte a ordem imposta pela sociedade ao gênero masculino, mas será que isso é o bastante para empoderar seus adeptos sobre o que é ser homossexual nesta mesma sociedade? Hoje, durante uma conversa com um dançarino de stilleto, homossexual assumido, perguntamos ao mesmo o motivo que o leva a se acabar dançando em cima de um salto? Por surpresa, a resposta que recebemos nos incomodou profundamente, disse ele:

Eu danço stilleto porque me sinto bem, quando eu to de salto sou mais eu, sou mulher, sou diva, sou invejada... Eu me liberto. Sei que sou bom nisso, muita mulher fica pagando ao meu ver dançar, porque eu me rasgo mais que elas, sou mais mulher que elas nessa hora.

Ok, é só isso?Dançar, ser mais mulher que as próprias mulheres? Mas em que o stilleto te ajuda a se compreender enquanto homossexual? Perguntamos. E ele não soube responder... Mas seguiu enfatizando que se sente mais mulher porque esta de salto e é invejado pelas mulheres que não conseguem dançar como ele, isso nos levou a refletir o papel do salto alto na vida deste homossexual: quando o salto alto deixou de ser um instrumento de resistência para ser instrumento de empoderamento, se é que ele o empodera? Estaria o salto significando para este dançarino a fiança de uma mudança repentina de identidade? Mas e depois que ele desce do salto? O que acontece?
Um grande erro do olhar leigo sobre o stilleto é vê-lo apenas pelo caráter estético, isso resulta julgamentos rasos, que vão da admiração, passando pela preocupação com as articulações do calcanhar e do joelho que, certamente seus adeptos terão no futuro, até a inaceitabilidade de um homem “querer ser mais que as mulheres”. No entanto, o stilleto é muito mais que isso. Podemos equipará-lo a um movimento homossexual Pop de grande aceitação atual, mas que ainda não sabe a força que tem. Pelo menos não a força política.
O Stilleto é resistência quando homens sobem num salto agulha, dançam o mais feminino que podem, com exageros de movimentos de braços, posturas alongadíssimas e muito carão, subvertendo assim, o que a sociedade espera do comportamento masculino. Falamos aqui de um estilo cujo espaço é quase homossexual, quase porque também é muito procurado por mulheres não necessariamente homossexuais, mas a presença destas não tira o reinado daqueles no estilo.
O stilleto não é, ou ainda não é empoderamento, pois ainda que seja uma prática social em crescimento constante, espaço de sociabilidades juvenis, não fomenta debates sobre a presença homossexual neste espaço, não traça estratégias informativas sobre o lugar do salto na ressignificação da identidade desses homossexuais adeptos do estilo, não conscientiza ninguém sobre o direito de usar um salto, por exemplo, e todas as subjetividades agregadas ao uso deste calçado e não de uma coturno, por exemplo; não fomenta debates sobre os direitos civis desses dançarinos, etc; mas ao contrário, aliena seus adeptos ao incentivar a competitividade nos mesmos seja no sentido de levá-los a uma homogeneização, ou de distinção entre a mais feminina, a mais desejada, a mais Diva a mais copiada, etc. Não que isso não possa acontecer, mas em nosso entendimento, isso enfraquece não apenas estas identidades sexuais, mas também a luta pela conquista de direitos LGBT. Empoderamento vai muito mais além que subversão de gêneros, o salto não é apenas um calçado, sentir-se diva não livra ninguém de ser agredido na rua por algum(ns) homofóbico(s), muito menos o stilleto é capaz de compreender a diversidade de homossexualidades dentro da homossexualidade. Quando os dançarinos de stilleto começarem a refletir sobre isso e não apenas saírem desfilando e dançando ao som de “Crazy in love” ai sim, poderemos pensar em empoderamento

 

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